Nesta terça-feira (29), bancários do Itaú de todas as regiões do Brasil promoveram um Dia Nacional de Luta para denunciar as condições precárias que enfrentam diariamente: um cenário marcado por demissões, metas abusivas e o adoecimento de trabalhadores. A mobilização busca trazer visibilidade para as dificuldades enfrentadas pelos funcionários, que contrastam com a imagem de sucesso e prosperidade promovida pelo banco, que recentemente completou 100 anos.
A ideia da Comissão de Organização dos Empregados (COE) do Itaú é mostrar que o banco, um dos maiores da América Latina, celebra seu centenário com o slogan "feito de futuro," mas a realidade dos bancários é de pressão intensa e pouco reconhecimento. Mesmo com o lucro crescente, os funcionários relatam uma rotina de exaustão e estresse, alimentada por metas abusivas e uma cultura de assédio moral. Depressão, ansiedade e esgotamento psicológico tornaram-se frequentes entre os que tentam manter o ritmo imposto pela gestão, que adota medidas punitivas e demissões por justa causa de forma recorrente e, muitas vezes, desmotivada.
Valeska Pincovai, coordenadora da COE do Itaú, destaca o lançamento de uma campanha de mídia como parte da mobilização: “Hoje estamos lançando uma campanha de mídia para sensibilizar a população e todos os funcionários do banco sobre a realidade do bancário do Itaú. Queremos com isso chamar os bancários para juntos construir a nossa mobilização para reivindicar melhores condições de trabalho. Queremos negociar com o banco seriamente o fim das metas abusivas e do assédio moral, o fim da terceirização, respeito aos trabalhadores adoecidos e outras pautas que já foram repassadas a eles. Com esta campanha, esperamos que o bancário do Itaú seja valorizado!”
Em Porto Alegre, diretores do SindBancários e da Fetrafi-RS distribuíram o informativo "Itaunido" nas agências bancárias, começando pela única ainda aberta no Centro Histórico da Capital, na Rua 7 de Setembro. "A gente está contrapondo a campanha do banco e questionando se o nosso futuro é o que está representado na propaganda. Nós vamos ter aposentadoria, vamos poder trabalhar sem pressão de tantas metas?", questiona o representante do Rio Grande do Sul na COE Itaú, Eduardo Munhoz, o Dudu.
A realidade das demissões e adoecimento
Nos últimos 12 meses, o Itaú fechou 1.785 postos de trabalho e 175 agências, intensificando a carga de trabalho para aqueles que permanecem no banco. A prática de terceirização já afeta 3.500 trabalhadores no estado de São Paulo, agravando a precarização das condições de trabalho e o adoecimento dos bancários. Demissões por justa causa se tornaram frequentes, baseadas em motivos que muitas vezes desconsideram o contexto dos trabalhadores, como nos casos de advertências aplicadas a funcionários com a prova de Certificação Profissional Anbima (CPA) marcada.
"Vamos fazer uma pressão para mudar essa situação. A gente está vendo muitas demissões, inclusive por justa causa, ocorrendo pelos motivos mais absurdos", destacou o diretor do Ramo Financeiro do SindBancários, Augusto Borges.
Além das demissões, a sobrecarga e o ambiente tóxico fazem com que o assédio moral e o adoecimento sejam problemas comuns entre os bancários. Casos de doenças psíquicas relacionadas ao trabalho no Itaú já representam 90% dos atendimentos dos sindicatos. Em vez de apoio, muitos trabalhadores recebem telegramas de abandono de emprego quando adoecem, uma atitude que reflete o desrespeito do banco em relação à saúde dos seus funcionários.
"O que o Gera do Itaú gera de verdade? O que a gente está vendo no sindicato é que está gerando adoecimento, depressão, ansiedade. A realidade de quem está trabalhando no Itaú hoje é inversamente proporcional à realidade dos bancos. Quanto mais lucro os bancos estão tendo, menos saúde os nossos colegas têm", frisa o diretor de Saúde do SindBancários, Rodrigo Rodrigues.
A diretora da Fetrafi-RS e Secretária de Combate ao Racismo da CUT-RS, Ísis Garcia, falou também sobre o assédio moral que as mulheres sofrem. "O adoecimento psíquico vem dessa sobrecarga que a maioria de nós, mulheres, sofre. Temos que nos unir e enxergarmos umas às outras, fazer essa reflexão, que nós somos colegas, somos pessoas e não apenas resultados para o banco", pontuou.
A COE do Itaú e os sindicatos orientam os bancários a buscarem orientação antes de aceitar qualquer indenização em troca de sua estabilidade no emprego. Como alerta Maria Izabel, outra coordenadora da COE Itaú: "Sua saúde é muito importante. Não renuncie aos seus direitos em troca de uma indenização, especialmente porque foi o banco que causou seu adoecimento. Procure o sindicato para entender seus direitos e se proteger. Não aceite dinheiro em troca da sua saúde! Afinal, ela vale mais do que qualquer proposta desonesta que o banco possa oferecer."
Por um ambiente de trabalho digno e saudável
A campanha lançada hoje busca unir os bancários e sensibilizar a sociedade para o desrespeito com o qual o banco tem tratado seus funcionários. A luta segue por condições de trabalho mais dignas, pelo fim das práticas abusivas e pela valorização dos profissionais que, diariamente, fazem o banco prosperar.
Jornalista/Fonte
Contraf/CUT com edição do SindBancários POA e Região